Por muito tempo, persistiu um espírito antiquário nas exposições do Museu do Ceará, quando o acervo, em seu processo inicial de formação, era praticamente apresentado em sua totalidade para o olhar do visitante. Após a chegada do Museu do Ceará ao Palacete Senador Alencar em 1990, foi preciso analisar a situação por meio de duas perspectivas: a ampliação do acervo e a diversificação das atividades do Museu do Ceará. Como forma de resolver as pendências, foram destinadas posteriormente as duas salas do Palacete Senador Alencar para constituir a reserva técnica, circunstância essa que, no presente momento, já não supre o montante atual de objetos sob guarda da instituição.
No entanto, o Palacete Senador Alencar, devido à sua estrutura e também ao fato de ser imóvel tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não permite a construção contígua de um anexo para o MUSCE ou qualquer outra intervenção que possibilite a ampliação desse espaço, além de novas salas, laboratórios e oficinas de conservação e restauro do acervo. Além disto, o prédio exige um detalhado processo de reestruturação de escoamento das águas pluviais, acessibilidade física, climatização e monitoramento eletrônico.
Com o objetivo de sanar as demandas relativas a espaço, além de propiciar a adequada obra de restauro do Palacete Senador Alencar, o acervo e setores técnicos e administrativos de Museu do Ceará foram transferidos, entre setembro e outubro de 2022, para o Anexo Bode Ioiô, na Rua Major Facundo, n. 584. Situado em uma das pontas da Praça do Ferreira, ao lado da Farmácia Oswaldo Cruz, considerada a mais antiga farmácia de manipulação do Estado do Ceará. O local que hoje recebe o anexo do Museu do Ceará também abrigou a antiga Loja Milano, inaugurada em 1965 para a comercialização de roupas, sapatos e acessórios e, entre 2017 e 2019, o Observatório de Fortaleza, ligado ao Instituto de Planejamento (Iplanfor) e integrado à gestão municipal da cidade.
O Anexo Bode Ioiô é dividido nos seguintes espaços:
– Térreo: recepção, com comercialização de objetos produzidos pela Associação de Amigos do Museu do Ceará, um módulo expositivo para mostras temporárias e Reserva Técnica Thomaz Pompeu Sobrinho;
– Mezanino: Auditório Prof. Gilmar Carvalho e Reserva Técnica Eusébio de Souza;
– 1º andar: Sala do Núcleo Administrativo;
– 2º andar: Sala Núcleo de Acervo e Pesquisa e Reserva Técnica Valdelice Girão;
– 3° andar: Sala do Núcleo de Comunicação e Educação e a Biblioteca Carlos Studart
O Anexo Bode Ioiô será um local de muitas experimentações, diálogos e debates, assim como de pesquisa, reflexão e de muitas ações referentes ao acervo do Museu do Ceará. Por sua localização, ampliará o diálogo com a cultura popular, representada, especialmente, pelos artistas de rua e os movimentos sociais que fazem da Praça do Ferreira o palco de suas atividades. O Museu do Ceará ultrapassará os limites do Anexo Bode Ioiô e integrará o espaço público em suas ações. Em diálogo com as reivindicações sociais da atualidade, o Museu será reconceituado a partir das interações, tensões e ocupações dos diferentes indivíduos e grupos sociais, de forma participativa com outras instituições e espaços de cultura e memória, a comunidade artística e diferentes públicos, como trabalhadores e transeuntes da região do centro de Fortaleza.
Foto: Deivyson Teixeira
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